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A volta da marcação individual no futebol: uma análise crítica
Por Redação FutGalo em 10/11/2024 09:54
A volta da marcação individual: Um fenômeno que divide opiniões
A final da Copa do Brasil de 2021 colocou em evidência um sistema de marcação que parecia ter sido relegado ao passado: a marcação individual. Gabriel Milito, então técnico do Atlético-MG, apostou na estratégia para conter o ataque do Flamengo, liderado por Gabigol. Essa escolha reacendeu o debate sobre a eficácia da marcação homem a homem em um futebol cada vez mais dominado pelo jogo posicional.
Há menos de uma década, a marcação individual parecia fadada à extinção. O futebol moderno, com suas filosofias de jogo que privilegiam a posse de bola e a construção elaborada das jogadas, priorizava a marcação por zona. No entanto, o sistema de marcação individual voltou à tona, com diversos treinadores adotando-o em diferentes momentos do jogo.
Marcelo Bielsa, o treinador argentino conhecido por suas ideias inovadoras, é um dos expoentes da marcação individual. O italiano Gianpiero Gasperini, campeão da Liga Europa com a Atalanta, também é adepto do sistema. No Brasil, Hernán Crespo, Abel Ferreira e, claro, Gabriel Milito, adotaram a marcação homem a homem em suas passagens por São Paulo, Palmeiras e Atlético-MG, respectivamente.
Por que a marcação individual voltou?
O ressurgimento da marcação individual é um reflexo dos constantes movimentos de ação e reação que moldam a história do futebol. Em um jogo onde a saída de bola em passes curtos se tornou cada vez mais comum, a pressão individual surge como uma resposta natural.
Outro fator crucial é a ascensão do chamado jogo posicional. Esse modelo, que se tornou hegemônico no futebol moderno, busca explorar as fraquezas da marcação por zona, criando espaços e oportunidades para o ataque. Para muitos treinadores, a marcação homem a homem é uma forma de neutralizar as vantagens que o jogo posicional oferece.
A imagem a seguir ilustra a marcação individual aplicada pelo Atlético-MG contra o Flamengo:
Em contraponto, a imagem a seguir mostra um exemplo de marcação por zona. O Flamengo, sob o comando de Tite, utiliza duas linhas de quatro jogadores para marcar o Bahia. Neste sistema, cada defensor se responsabiliza por um espaço específico do campo, ao invés de marcar um jogador específico.
Sistemas híbridos: a combinação de marcação por zona e individual
"Eu prefiro individualizar quando subimos a marcação. Quanto mais subimos as linhas, mais individualizada é a pressão. Para defender mais atrás, a marcação por zona é eficiente. Você pode compactar bem suas linhas e evitar riscos quando adversários trocam de posição, fazem movimentos de apoio e profundidade", diz Zé Ricardo, técnico com passagem por diversos clubes brasileiros.
Zé Ricardo se refere aos sistemas híbridos de marcação, que combinam elementos da marcação individual e por zona. Esses sistemas são cada vez mais comuns no futebol moderno. As equipes utilizam a marcação individual para pressionar a saída de bola adversária e, ao mesmo tempo, se organizam em linhas defensivas compactas para evitar riscos e conter ataques em progressão.
"Já era muito visível a marcação individual nos tiros de meta e arremessos laterais. Mas ela vem crescendo no mundo todo em outros momentos do jogo", afirma Cléber Xavier, ex-auxiliar de Tite e hoje treinador. Xavier também destaca que ambos os sistemas possuem riscos e vantagens, que variam de acordo com as características de cada equipe e os duelos individuais que se estabelecem em campo.
? Num jogo de perseguição individual, o campo fica maior, as distâncias aumentam, o jogo fica mais vertical, intenso, físico.
A influência das mudanças nas regras
Uma das possíveis causas do aumento das marcações individuais remonta aos anos 90. Em 1992, a regra que proibia os goleiros de pegar com a mão bolas recuadas foi alterada, o que os obrigou a participar ativamente do jogo com os pés. Essa mudança impulsionou a saída de bola em passes curtos, criando um ambiente propício para a pressão individual.
? A ação e reação está presente em tudo na vida. Todo mundo agora quer jogar de forma organizada desde a defesa. Mas, se você tenta pressionar de uma forma zonal, tem um limite para compactar sua equipe, que é a linha do meio-campo ? avalia Zé Ricardo. A lei do impedimento limita a capacidade de avançar a linha defensiva, o que pode resultar em espaços e riscos. Por isso, muitos técnicos preferem pressionar de forma individual.
Outra mudança de regra, esta mais recente, é destacada pelo técnico Eduardo Barroca:
? A permissão de que, no tiro de meta, um jogador possa receber o passe ainda dentro da área, teve um impacto. Muitas equipes marcam homem a homem, sem sobra na defesa, para ganhar um homem a mais na pressão ofensiva. Assim, tentam minimizar uma inferioridade numérica que terão em sua pressão, já que os goleiros adversários hoje participam do jogo com os pés ? avalia.
A influência do Jogo de Posição
Desde a revolução promovida por Arrigo Sacchi no Milan, no final dos anos 1980, a marcação por zona se tornou hegemônica. As equipes se organizavam em linhas compactas, buscando proteger o espaço e encurtar o campo.
No início dos anos 2000, o auge do Barcelona de Guardiola e a ascensão do Jogo de Posição revolucionaram novamente o futebol. Esse modelo buscava explorar as fraquezas da marcação por zona, posicionando jogadores entre as linhas do adversário para criar dúvidas e ocupar espaços menos defendidos.
A marcação homem a homem surge como uma resposta direta ao Jogo de Posição. A ideia é eliminar as linhas e os espaços que o jogo posicional busca explorar. Cada defensor se responsabiliza por marcar um atacante, eliminando a possibilidade de criar espaços entre as linhas.
? Um time que pratique bem o jogo posicional, tudo o que ele quer é uma marcação zonal no adversário: ele consegue identificar bem os espaços para tirar vantagem ? diz Zé Ricardo.
Vantagens e desvantagens da marcação individual
Adeptos ou não da marcação homem a homem, os treinadores concordam que o sistema possui vantagens e desvantagens.
? O risco (da marcação homem a homem) é o adversário levar seu marcador para onde ele quiser. Por exemplo, pode abrir o centro do campo. Ou deixar a defesa frágil contra movimentos de infiltração. Mas é possível criar vantagens nos duelos, eliminar homens livres do adversário. E também o fato de não precisar elaborar muito o seu jogo ofensivo: o time pode viver de jogo direto e duelos individuais ? analisa Barroca.
Em suma, a marcação individual é um sistema que exige um estudo aprofundado e uma aplicação estratégica. É um sistema que se adapta a diferentes contextos, mas que exige uma análise cuidadosa dos pontos fortes e fracos de cada equipe e dos duelos individuais que se estabelecem em campo.
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